segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Felipe Pauluk

Só sei nesta vida que necessito muito de você. Não é uma necessidade suportável, diremos de suporte, para me aguentar sabe. Mas uma necessidade egocêntrica minha. Tipo, ser teu amigo, me faz sentir melhor, Renova minha alma, aquece minha vida, me faz vislumbrar o palato da amizade. Como se este sabor impregnasse dentro de mim e me fizesse sentir tal viço prazeroso por tempos. E renovando continuamente, é como se eu renascesse de mim mesmo com a ajuda do seu "eu".

Texto escrito por Felipe Pauluk em agosto de 2010.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Invenção (Parte I)

_ Não vai me perguntar o que aconteceu?
_ Por quê? Aconteceu algo?
_ Não, nunca acontece nada, mas você sempre pergunta.
_ Pois então, acho que não perguntarei mais.
_ Por quê? Não quer mais saber?
_ Não, apenas me cansei da mesma resposta por todas as vezes.

(pausa de um minuto e quatorze segundos)

_ Então...
_ O quê?
_ Não aconteceu nada?
_ Desisto.
_ De quê?
_ Tudo.
_ Você não pode desistir assim.
_ Assim?
_ É, desta forma, você desiste muito fácil.
_ Não, eu venho lutando contra isso há tempos, venho tentando não desistir há anos.
_ Você sempre pensou então?
_ Sim.

(pausa de trinta e nove segundos)

_ Ficou mal?
_ Com o quê?
_ Com o que eu disse...
_ Por que eu ficaria?
_ Não sei.

(pausa de)

_ O que estamos fazendo?
_ Não faço a menor idéia.
_ Vamos parar então.
_ Por quê?
_ Não sei, apenas desejo tudo como antes.
_ Não me parece.
_ Como não?
_ Você me transmite tantas expectativas, tantos desejos, tantos sentimentos, quando não é isso que parece ser realmente, não é o que vejo.
_ Acha que minto para você?
_ Mentir não, diria, se expressa mal.
_ Desculpe-me.
_ Não.

(longa pausa)

_ Vamos parar.
_ Não. Agora não quero.
_ Espere aí, quantos anos você tem?
_ Um pouco mais que você.
_ Não me parece...
_ Me expresso mal.
_ Sabe o que eu queria?
_ Desculpa, não quero saber.
_ Digo do mesmo jeito.
_ ...
_ Queria aquela sexta-feira.
_ Qual delas?
_ Qualquer uma delas.
_ Mas ocorreram diversas sextas.
_ Não me interessa quantas sextas, quantos meses, quantos anos.
_ Você não se interessa por nada.
_ Errado.
_ Se interessa pelo que, então?
_ Por mim.
_ Só por você?
_ Sim.

(pequena pausa)

_ Não se esqueça.
_ Do quê?
_ Somos a mesma pessoa.
_ Ah, não me venha com esta agora!
_ O que houve?
_ Me cansei.
_ Quer desistir?
_ Não.

(pausa de)

_ O que você quer então?
_ Descansar.
_ Não quer aquela sexta-feira também?
_ Não sei qual delas.
_ E de que isso vale?
_ Me diga você.
_ Detalhes são meros. Podemos querer uma sexta-feira inventada, podemos imaginar uma sexta-feira que está por vir, e a querer, com todas as forças.

(longa pausa)

_ Eu quero você.
_ E apenas me inventa, me imagina?
_ Às vezes.
_ Como assim?
_ Às vezes você não é o que eu penso que é, mesmo assim não mudo de pensamento, me engano, achando que você está sendo como eu quero, quando na verdade você não está. Odeio quando me pergunta se aconteceu algo, você sempre o faz. Mas quando não o faz, mesmo sendo o que eu quero, iludo-me pensando que não está agindo como eu queria.
_ Não entendi muito bem.
_ De fato.

(pequena pausa)

_ Podemos parar agora?
_ Não.
_ Quer tanto continuar para quê?
_ Quero entender direito.
_ Não precisa.
_ Ora! Entender não é mero, não é detalhe, é preciso. Não podemos inventar isto, você está enlouquecendo, isso que você está!
_ Calma.
_ Estou numa calmaria que você nem imagina.
_ Não precisa apelar...
_ E estou?
_ Desisto.
_ Já era de se esperar, aliás, pensei que já tivesse desistido há muito.
_ Não, desde o começo da conversa, desde quando comecei a viver, luto contra isso, esqueceu?
_ Então quando diz "desisto", o que quer dizer?
_ Apenas se foi um tempo da luta.
_ Em que você perdeu?
_ Não.
_ ...
_ Em que eu inventei ter perdido.

Texto escrito por Aghata Miranda em maio de 2010.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Soneto da conversa

Olhei para ti e teus olhos cheios d'agua.
Não tanto quanto os meus.
Olhei para ti e teu coração despedaçado.
Tanto quanto o meu.

Foi um dia qualquer, nesses qualqueres perde-se a vez.
Não esperávamos e não soubemos como agir.
Estava tudo tão igual ao que foi ontem.
Nos segurávamos até dizer a primeira palavra.

E foi decorrendo, foi escorrendo.
Quanto mais se falava, mais tristeza se tornava,
Presente, inconsciente, inconstante.

E mudava, permanecia o mesmo.
Quanto menos se agia, mais queria-se atitudes,
Ausentes, pedindo de forma gritante, errante.

Texto escrito por Aghata Miranda em 2010.