segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Invenção (parte III)

_Cheguei!
_...
_Cadê você?
_Oi?
_Cadê você?
_Aqui...
_Aqui onde? Ah, achei.
_...

_Que revista é essa?
_...
_Ei?
_Oi? Falou comigo?
_Sim, perguntei que revista é essa.
_Essa?
_É!
_Ah, é uma revista aí...

(pausa, ida ao banheiro)

_Acredita que esqueci minha agenda em casa hoje?
_Ah, e como foi?
_Como foi o quê?
_Ué... do que você está falando?
_Ah quer saber, esquece. Ou você dá atenção pra essa revista ou então dá atenção pra mim.
_Mas eu estava lendo a revista primeiro, você que chegou depois, que espere.
_E quem chegou primeiro na sua vida, foi a revista ou fui eu?
_Que profundo!

(pequena pausa)

_O que deu em você hoje hein?
_Meu Deus, só estava aqui lendo minha revista, não fiz nada.
_Você nunca faz nada né...
_O que você disse sobre amêndoa mesmo?
_AGENDA!
_Ah, sim... Como se virou sem ela?
_Bem, eu tinha tudo anotado no celular também.
_Relevante então...
_O que é relevante?
_Você ter contado que esqueceu sua agenda... pensei que tivesse acontecido algo trágico na sua vida hoje por causa disso, mas no final você tinha tudinho no celular.
_Como se você se importasse.
_Me importo, claro.
_...

(pausa de aproximadamente três minutos)

_Então, por que você usa os dois?
_O quê?
_Por que você usa o celular e a agenda se tem as mesmas coisas anotadas nos dois?
_Ah... porque... porque eu gosto, sei lá porque! Por que você vê o jornal da manhã, da tarde e da noite se são sempre as mesmas notícias? Por que você tenta sair 5 minutos mais cedo de casa pra ir pro trabalho se sabe que sempre vai ter o mesmo trânsito? Por que, por que, por quê?
_Quanta tempestade num copo d'água!
_Eu só te fiz perguntas, perguntas normais, perguntas como a sua, ora essa.
_Você não sabe receber críticas e tenta se justificar fracassadamente!
_Eu agora sou um fracasso, é isso que você quer dizer? Por que você está com um fracasso então?
_Isso sim foi uma boa pergunta.

(pausa realmente longa)

_Agora você parou de falar comigo, foi isso?
_...
_Vamos lá, quantos anos você tem?
_Eu vou... eu vou embora.
_Vai o quê?
_É... não dá mais não.
_Mas, do que você está falando? Vai deixar uma agenda acabar com tudo?
_Não é bem uma agenda, e sim o fato de você nem saber porque está comigo...
_Mas eu não disse isso!
_...
_Vem cá... para com isso... você não vai embora coisa nenhuma...
_Vou sim, vou sim, não tem condiç...
_VOCÊ ME AMA?
_Mais que absolutamente tudo.
_Então fica comigo.
_Não é tão simples assim, sabia...
_Claro que é, é a única coisa que importa aqui.
_Pra você...
_Pra você não?
_Ah, eu não sei. Nem sei o que é o amor.
_Mas eu já lhe expliquei, não?
_É, mas... Não sei se consigo acreditar nisso.
_Tá querendo dizer que eu minto?
_Não, não é isso...
_Então...?
_É que realmente não faz muito sentido.
_Você já analisou?
_Na verdade não.
_Então analise...

(pausa de quinze minutos e três segundos)

_É, você tem razão.
_Oi?
_Eu disse que você tem razão!
_Ah, viu, eu te disse.
_Mas, mesmo assim, acho que deveríamos dar um tempo.
_Ora, tempo é para os fracos, você não acha?

(risos)

_Não, falo sério, talvez pra que você possa pensar no porque estamos juntos, e outras coisas que quando pergunto você não sabe responder.
_O que você diz é um completo equívoco.
_Então tudo bem, então me responda: por que está comigo?
_Mas meu Deus, porque eu te amo!
_Tudo bem, tudo bem.
_Que outra explicação posso te dar?
_Não, eu aceito essa.

(pausa de)

_Aceita que eu te amo?
_Aceito.
_Aceita ficar comigo para sempre também?

Texto escrito por Aghata Miranda em janeiro de 2011.

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